sábado, 14 de janeiro de 2017

Tempo da colheita, colheita do tempo

Vindima: [ Do lat: vindemia]. S. f.  Colheita ou apanha de uvas; vindimadura. (...) 2. Uvas vindimadas. 3. P. ext. O tempo da vindima (1). 4. Fig. Colheita de qualquer fruto. 5.Granjeio, aquisição.

Outros termos: vindimadeiro/vindimador, vindimado, vindimadura, vindimal, vindimar, vindimo. 

Um desejo que sempre tive:  participar da colheita e da pisa das uvas. O encontro dos tecidos do vinhedo e da minha pele. Nas mãos, nos pés. Pele-raiz, que reconhece, nos cachos, natureza viva, pulsante como a sua. Me torno parte de um cenário até então desconhecido para mim. Surge o inusitado, o extraordinário, que dá à viagem um sentido especial, como algo que impregna minha bagagem afetiva. A vindima é uma experiência completa, nesse aspecto: vejo, escuto, toco, cheiro, degusto. Mergulho na prática da colheita e da pisa, no deleite de um café da manhã no parreiral, na diversão das oficinas de capeletti e de chimia de uvas. Saio a campo, com o grupo, realizando uma ação que se repete em tantos tempos e em tantos lugares; colhendo e pisando as uvas, passo a fazer parte desse ritual.  Escolho usar meus sentidos para essa novidade, colocando na tarefa minhas emoções e lembranças, meu corpo, as sensações. No turismo de experiência, este é o foco: tornar o vivido em algo significativo, que melhore o bem-estar e propicie o sentimento de pertencer  ao universo visitado.
Pois a Casa Valduga oferece essas riquezas ao hóspede, na programação de sua Vindima. Faz dele um vindimadeiro, conectando-o com essa prática ancestral. Coloca-o em contato com a cultura da colonização italiana no Rio Grande do Sul, com as tradições e memórias da Famiglia Valduga. Propicia que mergulhe na experiência de vindimar, tocando a vinha e sendo tocado por ela.

É o tempo da colheita. E a colheita do tempo.
 Entra em cena a sabedoria de espera que as uvas têm.A espera pelo tempo propício: paciência e perseverança. Na vindima, colhemos também essas virtudes. Byung-Chul Han, filósofo e escritor da Coréia do Sul, em seu livro "O aroma do tempo- um ensaio filosófico sobre a arte de demorar-se",  esclarece o sentido da espera, em especial na época ultraveloz do século XXI:
"O intervalo temporal se estende entre duas situações ou acontecimentos.O intermediário é um tempo de transição. (...). O intermediário que separa a partida da chegada é um tempo indefinido, em que se deve prever o imprevisível. Mas também é um tempo de esperança ou da espera que prepara a chegada."

De tudo isso, as uvas sabem. Por essa razão, não se apressam.
Vindimar é colher a sabedoria profunda que a natureza tem: o tempo propício.

Um dos principais desafios deste século é o de (re) aprender a demorar-se em uma prática, em um talento, em um hobby ou na vida cotidiana; a oportunidade da imersão nesse Turismo de Experiência da Casa Valduga promove esse atributo. Demorar-se, aqui, significa usufruir de algo na plenitude dos giros do relógio, sem desejar que corram em alta velocidade. Significa, de modo profundo, permitir-se vivenciar o estranhamento que a nova experiência provoca no Ser, tenha essa a duração que tiver. Precisamos retomar certa lentidão na vida, para que haja espaço de sentir. No ritmo frenético em que o mundo caminha, perceber a ação dos nossos cinco sentidos já não é natural em nós. É preciso tempo para sentir um aroma tocar nossa intimidade, ou para saborear um prato da infância. O imediatismo tira de nós a sensibilidade: suprimimos as percepções que requerem nosso foco, como o tato, o aroma e o paladar. Ver e ouvir, ações instantâneas, nos poupam trabalho de prestar atenção e de desenvolver a consciência. Estamos ficando preguiçosos na conexão com os cinco sentidos, portas de entrada de nossas emoções, memórias e reações físicas.

Pensando em tudo isso, decidi escrever sobre essa oportunidade. Participar da vindima é retomar o elo com o sentido do tato, ao tocar as uvas com as mãos, na colheita, e com os pés, na pisa. É conectar-se com o olfato, nos tantos aromas que a terra e as vinhas oferecem, e com o paladar, naquela uva roubada que levamos à boca, de surpresa. Sobretudo, é uma preciosa experiência multisensorial, que inclui a visão e a audição, além dos sentidos que referi. São experiências prazerosas como essas que ficam em nós, no corpo e nas emoções, ao retomarmos o cotidiano.O prazer é um sentimento do corpo, vivenciá-lo é dar voz à nossa vida física e anímica, ou seja, à saúde.

Na Vindima da Casa Valduga, são diversos os benefícios ao bem-estar:

-enriquecimento da percepção dos sentidos
- a prática do demorar-se
-O 'fazer parte'
- a vivência do ritual da colheita e da pisa
-a interação com o grupo de hóspedes, nas atividades propostas
-O contato com a cultura, a gastronomia e as tradições locais
-O conhecimento do território em suas belezas
- a conexão consigo mesmo, nas práticas que demandam o foco na percepção sensorial.
- a consciência de si
- a relação com os tempos da natureza
- e outras que o leitor imaginar.


No post a seguir, conto a programação.

Com carinho,
Betina








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